“Pode o psicanalista escutar o racismo, sexismo, a divisão de classes que compõem o laço social que ele mesmo usufrui? Essa pergunta embaraçosa nos remete à questão-foco do livro que diz respeita à formação do analista.
Essa pergunta retorna e insiste de outra forma, quando ressurge o debate perante as regulamentações da psicanálise. Se a presença da psicanálise na universidade já era um incômodo assimilado, tal debate provocou a necessidade e a oportunidade de atualizar essa discussão sobre a formação do psicanalista e a transmissão da psicanálise em nosso tempo e conjuntura, para além da repetição monótona sobre o tripé da formação do psicanalista – análise, supervisão e estudos teóricos–, como garantia já superada pela história e por indagações atuais sobre a obturação na escuta do sofrimento sociopolítico.
A coletânea surge de um certo incômodo de Enzo Pizzimenti, organizador e autor do livro, por perceber uma repetição acrítica dos argumentos sobre a regulamentação da psicanálise, somada a uma apresentação do campo como se este fosse livre de divergências, cisões e questões políticas importantes que gravitam em torno da formação do psicanalista, logo, em torno do divã, dos consultórios e da oferta de um tratamento para além destes. O autor transforma o incomodo em oportunidade de relançar a questão. Nomeia a coletânea com uma fina articulação ao escrito de Lacan O tratamento psicanalítico e os princípios de seu poder . Substitui o tratamento psicanalítico e interpela a formação do psicanalista e os princípios de seu poder, dando uma ênfase polêmica mas necessária na discussão em torno da formação do psicanalista, justamente para convocar os colegas a falar do que há de poder no interior das instituições, escolas de psicanálise, coletivos, universidade.” (Prefácio de Miriam Debieux Rosa, no livro A formação do psicanalista e os princípios de seu poder: cenas do impossível)