Também existem os tambores: Outras gramáticas entre racialidade e psicanálise

Também existem os tambores: Outras gramáticas entre racialidade e psicanálise

A invisibilidade (ou hipervisibilidade) e o silenciamento de negros e negras têm sido transmitidos com extrema eficácia por uma gramática social segregadora a atualizar a história da violência racial no Brasil. Entretanto, desde a conquista da implementação das ações afirmativas, novas enunciaçōes encruzam outros saberes no campo epistemológico.

Em tom ensaístico assertivo e não totalizante, este livro de Taiasmin Ohnmacht propõe um diálogo com a psicanálise e suas instituições, inscritas, estas, nesse mesmo laço social que promove o desamparo discursivo para corpos negros.

A autora apresenta a colonização do psiquismo pela incidência do racismo na linguagem, que transforma o significante ‘negro’ em signo do abjeto, ao interpretar traços fenotípicos do corpo em estigmas que apagam a singularidade. Estes precipitados de excesso de sentido assentariam-se nos objetos pulsionais parciais olhar e voz, de limites imprecisos entre sujeito e outro, parasitando-os por imperativos superegóicos através de mandatos cruéis e sentimento de culpa. Durante toda a sua escrita a autora vai trazendo elementos com potência de subverter esta lógica dominante, e, por isso mesmo, não única.

Assim, a despeito da cosmologia moderna da branquitude, propõe a potência de territórios de reexistência – espaço linguageiro que conjuga as condições de reinserção em uma cadeia simbólica -, de fazer furo entre o olhar e o corpo, o que poderia vir a viabilizar outras experiências de recorte pulsional, permitindo ao sujeito a descolonização do psiquismo, ao recolocar seu desejo em causa.

*Envios a partir de abril.